quarta-feira, 24 de junho de 2009

The Cable Guy

Os factos que se seguem são da inteira irresponsabilidade de quem os praticou, e qualquer semelhança entre, os personagens desta estória e as pessoas que se escondem por detrás do anonimato bloguístico, são puramente fantasia e inacreditável coincidência.

Vamos, só para facilitar as coisas, chamar PWFH a um dos personagens deste relato e vamos chamar Outro ao outro. PWFH e o Outro eram colegas de turma e camaradas do disparate, duas cabeças brilhantes com fusíveis a menos.

Tudo aconteceu em 1995 após os exames nacionais, o nosso duo dinâmico aproveitou que os pais de PWFH iriam para fora de fim-de-semana, para festejar o fim da escola de forma como sempre nos habituou … com estragos!
O plano era este, Assim que o pai PWFH e a mãe PWFH partissem o Outro estaria à porta do prédio, já com as respectivas litrosas atempadamente adquiridas no Extra e com uma embalagem de erva vinda pelo correio da Holanda, e daríamos inicio às actividades.
O jantar de sabado começou calmo e a cerveja escorregou bem demais, o whisky do pai de PWFH era bom demais para as goelas ávidas, e o desejo de rápida bebedeira dava o mote.
Já atestadíssimos, no patamar do prédio sem querer começar a dar barraca logo no início do pandã, PWFH concentradíssimo recapitula mentalmente todos os passos para que o fds dê certo, e com a porta trancada, a chave guardada (se bem que o ultimo click da fechadura não tenha sido tão certo como o costume. Mas não há de ser nada) toca de ir para o Bairro.

Hiato temporal passado no Bairro Alto em que o único valor de acrescento à estória é inversamente proporcional ao acrescento alcoólico na cabecinha daquelas duas criaturas.

De volta à casa de PWFH, por volta das 4:30 da madrugada e por entre quedas e risos, as caras empalidecem um pouco mais quando a fechadura em vez das quatro voltas (que dão direito a entrar) só dá duas e dois dentes da chave partidos como oferta.
- Tamos fodidos diz o Outro
PWFH usava todo o poder da jola para se lembrar de uma forma de entrar em casa (um quinto andar para a rua da frente e um segundo para as traseiras) que não metesse arrombamento nem explosão.
- Bombeiros! Exclamou. Moedas? Perguntou.
Reuniram as moedas que por sorte já não pagavam bebida nenhuma e saíram em busca de uma cabine para chamar os bombeiros. Passados 15 minutos eis que as forças de salvamento chegam, vindos numa pequena Renault Espress com uma escada que nem dava para tirar uma lata de salsichas da última prateleira da dispensa. Após verem o que tinham de subir para entrar por uma das janelas e o equipamento que dispunham e a bezana que traziam, contactaram o quartel e, passados mais 20 minutos chega “O” Carro De Combate a Cataclismos com uma tripulação de oito homens e uma escada maior que o Feijoeiro Mágico, escoltado pela polícia e com as sirenes a anunciar qualquer coisa como a queda das Torres das Amoreiras ou algo semelhante.
Bem, para despachar isto, digo-vos só que em 10 minutos estávamos dentro de casa sem estragos em janelas estores ou fechaduras.
Já dentro de casa por volta das 5:30, cada um apagou para seu lado.
Domingo, ao acordar, ainda nos fartámos de rir com o sucedido, só faltava o Outro arrumar as tralhas e pirar-se antes ainda que os pais de PWFH se lembrassem de se por a caminho.
De mochila ao ombro e tentando não pisar nas olheiras o Outro sairia atempadamente de casa, isto se a fechadura se tivesse auto-arranjado durante a noite.
-Como é que vou sair daqui? Indagou nervoso o Outro.
-Por onde entraste! Respondeu PWFH num misto de sarcasmo e de cientista louco.
-Fodassssssse aquela merda tem aí uns 5 metros de altura, parto-me todo!
-Opá tas a ver alguma outra alternativa!? Temos de arranjar forma de desceres aquilo em segurança. (Aqui a palavra “segurança” e “salto de um piso de 5 metros” não encaixa, mas foi a forma mais diplomática que PWFH encontrou para seguir o plano e tirá-lo de dentro de casa antes que os pais chegassem).
-Como? Perguntou o Outro já conformado ao seu destino.
-Pá, como nos “filmes de fugas da cadeia”, Lençóis atados! Devo ter aí uns velhos!
-Velhos não caralho! Isso vai rasgar-se e vai dar mau resultado disse o Outro.
E eis que surge a IDEIA MONSTRA da cabecinha de PWFH.
-Um rolo de cabo de televisão! (Eureka, em Grego). Atas isso à cintura, pões-te do lado de fora do parapeito, eu enrolo isto no braço, tu desces tipo “rapel” e eu vou-te dando cabo! Na boa, confia em mim que vai resultar!
Dito e feito, momentos depois estava PWFH de rolo de cabo de tv ao ombro, cabo estendido até à janela, e na ponta o Outro com cara de borradíssimo do lado de fora da janela balbuciando as suas ultimas preces.
-Pronto? Perguntou PWFH.
-Óhhhh mãe!!!!
-Desce com os pés na parede devagar!
Por baixo do corpo do Outro, 2 metros abaixo, a parede era recolhida em relação à fachada, e mal a descida se iniciou o pouco previsível pé em falso aconteceu e o outro precipitou-se em queda. O que lhe valeu era que PWFH tinha o cabo bem seguro, até sentir o esticão (semelhante ao de um

Black Marlin quando sente o anzol fisgado) e ser puxado em direcção à janela de onde o Outro tinha desaparecido, ter batido com os nós dos dedos no alumínio e ter largado o tão seguro cabo.
Pãããããããnnnnnn…. Barulho seco de corpo a cair no mármore.
Pimba, estateladíssimo no chão, mesmo no intervalo das 3 almofadas que tínham lançado para

o caso de se dar o mais provável.
-Tás bem? Perguntou PWFH a medo.
-Népia. Gemeu o Outro enquanto tentava mandar as almofadas de volta.
-Queres que chame alguém?
“Caga nisso, eu apanho o das 5 …” foi a ultima coisa que se ouviu do

Outro enquanto se afastava cambaleando com o tornozelo do tamanho de uma meloa.

19 comentários:

AD disse...

Quedas de janelas é d'homem.

AlémTejo100Lei disse...

Quem maravilha, já não me lembrava disto. qd comecei a ler pensei q a estoria fosse outra (mais mini)

PWFH disse...

Outras ocorrências relevantes, com os mesmos personages, virão a publico em breve. Para verem que a minha juventude não foi pera doce!

A disse...

ahahahahah que história, o que mais gostei foi do pormenor das almofadas. segurança acima de tudo.

isto apenas mostra as vantagens de viver na grande cidade. nós o máximo que fazíamos era soltar as vacas da cerca quando os pais não estavam em casa.

grassa disse...

Que glorioso caso da vida real!

Eu nunca tive nada disso.

Eu foi mais mijar no meio do passadiço da zona de bares do Oriente com dezenas de pessoas à volta.
Ou vomitar pendurado numa barricada nas festas do Porto Alto, qual toalha a secar no estendal, para a frente de uma mancha negra que calculo que fosse o touro.
Ou parar em plena acesso à A1 para, conjuntamente com outro bêbado, e com a ideia de que éramos possuidores de super-força, tentarmos arrancar uma das estacas gigantes que constituam a amurada para o lado do rio.
Ou ficar sem gasolina em plena A1 e, enquanto três de nós foram procurar gasolina às três da manhã, eu e outro bêbado termos ficado a guardar o carro de uma forma deveras original: vendo qual de nós conseguia correr mais longe no sentido contrário ao dos carros.
Ou, conjuntamente com outros dois bêbados, termos arrancado um sinal STOP do chão e ter levado tanto o sinal como os trinta quilos de cimento na base do sinal para casa.
Ou, conjuntamente com outro bêbado, termos roubado uma grade de metal (daquelas que se utilizam para parar multidões) e termos levado, como presente, para o primeiro andar de uma amiga.

Agora isso, não.

PWFH disse...

A, o objectivo é sempre o mesmo, mas não houve vacas que quisessem vir pular a cerca, teve de ser o Outro a pular a janela para animar o dia!

PWFH disse...

Grassa, porque será que o denominador comum nas estória de juventude é a palavra "bêbado"?

grassa disse...

Não faço ideia, mas sei que foram aí que vivi dos melhores momentos da minha vida.

PWFH disse...

Na A1?

grassa disse...

O Bairro Alto é overrated.

Na A1 é que acontece tudo.

A disse...

também entendi isso, PWFH. já eu, foi no curral das vacas que aprendi tudo o que sei hoje.

PWFH disse...

Grassa, eu sempre que vinha das noites de fiasco do Bairro atalhava sempre pela A1 só para a noite ter algum salero!

A disse...

da única vez que fui ao bairro alto, pareceu-me que o pessoal era bastante simpático. a cada passo que dava, alguém me oferecia haxixe que eu declinava alto e respeitosamente. não sei por que, os meus colegas não me deixaram beber mais nessa noite.

Gata das Botas disse...

Grassa, não fosse ele pouco dado a estas coisas de escrever para os outros lerem, e quase juraria a pés juntos que tu eras o meu amigo L. É que uma vez eu fui presenteada, por dois amigos bêbados e às tantas da manhã, com uma grade dessas! Eu gostei do presente, embora tivesse gostado mais de uma grade de minis. Já a minha mãe não lhes achou piadinha nenhuma.

grassa disse...

Diz por mim ao teu amigo que ele é uma pessoa de extremo bom gosto para presentes.

AD disse...

Bando de alcoólatras.

Alexandra disse...

Ahahahah! Ainda não consegui parar de rir (chamem os bombeiros ou um bombeiro muito giro)!

Já percebi porque é que nunca mais tiveste noticias do teu amigo. Teve uma embolia no tornozelo e foi para o céu com Philadélfia light.

tiagugrilu disse...

Xinamén!

Nawita disse...

fantástico, ainda não parei de rir!
a confiança que o Outro deposita em ti!! o pormenor das 3 almofadas!! Lindo!

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